A edição de outubro da Revista Exame trouxe excelente reportagem sobre como a Microsoft, sob a liderança de Satya Nadella (CEO), vem retomando o protagonismo em inovações tecnológicas, sobretudo na corrida por investimentos em Inteligência Artificial. Nadella esteve no Brasil para o evento Microsoft Al Tour e concedeu entrevista à revista.
Porém, chamou ainda mais minha atenção a abordagem feita por Miguel Fernandes no artigo “Satya Nadella transformou a Microsoft na maior superpotência da IA”. O subtítulo do artigo dá uma pista do que me chamou a atenção: “o verdadeiro poder de uma empresa está em sua capacidade de transcender a figura de um CEO”.
Miguel Fernandes aponta um contraste na forma como Nadella vem liderando a Microsoft, em relação a figuras como Elon Musk e Mark Zuckerberg moldam suas empresas. Enquanto os últimos, fundadores de seus grupos empresariais, continuam à frente das mesmas, que são reflexos de suas próprias personalidades (às vezes, um tanto polêmicas), o CEO da Microsoft vem fortalecendo a missão, os valores e a cultura da empresa, que inspira confiança e estabilidade no mercado.
Naturalmente, em um mundo de followers e haters em quealgumas pessoas são transformadas rapidamente em mitos, ídolos ou em demônios, sem a necessária profundidade para tal, figuras carismáticas (ainda que polêmicas) como Musk e Zuckerberg possuem legiões de admiradores (e outros que nem tanto) e isso pode, sim, ajudar no crescimento dos negócios. Mas, como ressalta Fernandes, essa personificação da empresa na figura de seus líderes possui grandes riscos, inquietando e gerando preocupações no mercado.
A principal mensagem do artigo foi que o “verdadeiro poder de uma empresa está em sua capacidade de transcender a figura de um CEO. A liderança eficaz não é aquela que coloca o fundador ou o líder no centro das atenções, e sim aquela que constrói uma instituição forte, capaz de se reinventar e prosperar independentemente de quem está no comando”.
A Microsoft (que possui seus próprios followers e haters) faz tempo que é uma superpotência empresarial, com cultura e missão consolidadas. Nem podemos dizer que seu mais conhecido fundador, Bill Gates (poucos se lembram de Paul Allen), tenha sido um grande líder carismático. Mas que sempre foi um vencedor, acho que poucos duvidam.
O grande pensador da administração moderna, Peter Drucker, em seu “Managing for the Future :2The 1990s and Beyond” (1992), afirma que liderança eficaz não depende do carisma. Faz diversas referências de líderes carismáticos, mas com pouca eficácia, baixos resultados. Cita Dwight Eisenhower, George Marshall e Harry Truman como exemplos de líderes altamente eficazes, mas “que nenhum deles possuía mais carisma do que um peixe morto”. John F. Kennedy, por outro lado, foi uma das pessoas mais carismáticas a ocupar a Casa Branca, porém com poucas realizações concretas. E profetiza: “a base da liderança eficaz é identificar qual a missão da organização, definindo-a e estabelecendo-a com clareza e visibilidade. O líder estabelece as metas, as prioridades e determina e mantém os padrões.”
Link da reportagem completa (para assinantes): https://exame.com/revista-exame/uma-ia-para-8-bilhoes/